segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Critico tudo o que já fui ... (por maurício)

Seria isso algo bom? Acabo mesmo por criticar.
Outrora no bar, um grupo de meninos de um cursinho aqui de Santos discursava sobre a importância e a imponência da música de João Gilberto, logo seguida pela influência literária de "Crime e Castigo" do Dostoieviski nas novelas e histórias contemporâneas.
- Grande bosta. - eu disse. Inconscientemente, um tanto quanto embriagado, mas disse sobriamente "grande bosta", e diria de novo, escutando a conversa dos intelectualóides da mesa ao lado. Um casal de amigos me censurou e disse:
- Mas você gostava disso há tempos atrás.
- Foda-se. - eu disse, e bebi mais um conhaque com mel e limão.
O "foda-se" é sempre bem empregado quando você não sabe o que dizer, mas seguramente é uma desculpa sem o menor argumento.
Quanto tinha 19 anos, endeusava os seres da bossa nova e da mpb. Achava o máximo o jeito que o Tom Jobim compunha aquelas músicas com 569 acordes ou a pegada "bossa jazz" do João Gilberto na hora de dedilhar o violão. Achava que não tinha coisa melhor do que viajar em um livro do Dostoieviski ouvindo ao fundo o violãozinho do Chico solando "Ana de Amsterdam", e depois, é claro, ir pro bar mais barato de Santos beber cerveja"Crystal" com meus amigos e contar o meu feito da tarde que se passara:
- E aí Maurício, que fez hoje?
- Ah, nada de mais. Lí um "doistoieviski e escutei um Chico. - eu me achava o máximo.
Foda-se. É assim mesmo: Foda-se. Hoje, se passaram três anos e descobri que bossa nova e boteco não combinam. Que o João Gilberto e o Tom Jobim certamente tem os valores deles mas que existe um endeusamento da massa intelecualóide muito exagerado sobre essas figuras do passado Brasileiro. E ao final, do que adianta tanto endeusamento nesses caras? Dizer que o Chico Buarque com suas letras enigmáticas foi uma figura fantástica da época da ditadura não é mentir, mas o endeusamento termina por aí. A ditadura acabou, e nenhuma pessoa merece qualquer tipo de endeusamento. A história continua. O Raul Seixas dizia muito mais que todos eles e morreu pobre num sítio do Sertão de Piritiba. Raul é música de boteco, João Gilberto é música de pubzinho de Moema. Esse é o panorama. Será que é tão difícil ver o contraponto que há entre duas coisas tão completamente diferentes? E veja... não é uma censura sobre o que cada um quer ouvir, e sim fazer disso um estilo de vida e impor essa visão como uma verdade absoluta. Não é assim que funciona, ainda que o boteco pertença a cada um e cada um faz o que quiser com ele. Veja, não é preciso baixar a discografia inteira do Tom Jobim, comprar um óculos igual o da Mallu Magalhães e uma boina e baixar uns filmes do Fellini pra ser descolado e inteligente. Tampouco ler a obra inteira do Dostoieviski pra se dizer realista. Basta viver. Basta deixar o tempo passar e fazer com que as rugas e a maturidade batam à porta da sua vida. Não adianta querer ficar mais velho quando ainda se é novo. Não faz o menor sentido. Compre um livro e escute uma música por gosto. Por bel prazer. Pode-se ser feliz com bem menos.
O que mudou durante o tempo foi, além do discernimento, o entendimento de algumas coisas. E nesse caso, não é uma questão de pretensão. É realmente evolução eu acho. Eu também já me disse marxista e quando o dizia, tinha raiva de quem me dizia "um dia isso acaba". Não é perda de ideologia... não é descaso... tampouco é pretensão. E eu ainda gosto do que o Marx escrevia e vejo muito amor e boa vontade em todas as suas palavras; é questão de que tudo isso, na verdade, simplesmente não existe. Hoje em dia existe uma liberdade de expressão como nunca houve e encaro a internet como a maior arma de divulgação da liberdade de expressão que existe. Então, aproveite-a. Atire! Usufrua disso até que também a tirem de nós. Usar a vida da melhor forma possível possivelmente deve ser o que resta e o que cabe a cada um ao ponto que perguntas como "quem sou eu?" e" o que vim fazer aqui" jamais serão respondidas.
Não sei se "criticar tudo o que já fui" é algo normal nas pessoas em geral, mas eu acabo criticando entre os os meus já que passa a ser inevitável criticar tudo aquilo que não mais me apetece. E mesmo que depois eu volte a gostar de João Gilberto, ou baixe um disco do chico... Isso é saudável! Afinal esse é o direito mais fantástico adquirido durante os anos: mudar de opinião. E preferir ser uma metamorfose ambulante não é uma escolha, é um fato. As pessoas mudam mesmo de opinião, mesmo que algumas finjam não mudar.
As pessoas devem mudar... não importa que mudem pra melhor ou pior; isso também não existe. Se mudam, apenas mudando, já é fantástico. Nada que é constante há de ser bom. Criticar e ser criticado, talvez faça parte disso... e este é fatalmente um ciclo vicioso que não tem fim...

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