terça-feira, 27 de abril de 2010

Personalidade Demente - Por Eduardo Junior

Não é fácil definir minha personalidade. Um dia sou uma coisa, no outro dia sou outra. Vivo em constante metamorfose reversível, não como um personagem, que foi se transformando de gente em animal e que nunca mais voltou a ser gente. Meu caso é diferente. Um dia me sinto muito gente, da melhor espécie até. No outro me percebo como uma besta desprezível. Tudo depende de como consigo aceitar ou não a loucura de um mundo formado por hipócritas, cretinos, débeis, e o que é pior, imbecis, já que, isso tudo somado, dá no que deu essa humanidade da qual faço parte, mas que abomino com todas as minhas forças, desde que raríssimos são os que conseguem enxergar o óbvio. Quase todos são como vacas: seguem uns atrás dos outros, sem o cuidado de verem se quem lidera o rebanho tem capacidade para tal. Mas o pior de tudo é que o mundo se divide em muitas boiadas, quase sempre comandadas por “touros” que se fazem senhores de todos, havendo mesmo aqueles que interferem nos destinos de quase todos os outros rebanhos. E os idiotas que vão atrás, por safadeza (os touros menores); preguiça mental, ou idiotia progressiva (os touros sem berros), sabem que não está bom, mas não se unem para tomar o comando para formar um sistema social onde todos comandem e ninguém mande, ou seja, onde cada um seja dono de si, respeitadas as individualidades para o bem-estar próprio de cada um ou do coletivo.
Isto posto, e como muitos males já me vêm de longa data, desde quando eu mal sabia sequer como escrever, pois, comecei agora, já não muito longe dos 30, a perceber que certa demência pode aniquilar-me, se eu continuar dando audiência as flácidas, fedorentas e horríveis bundas dos meios sociais que me cercam.

Informar-me de certas realidades e pequenos fatos, já não me atraem com prazer; deplora-me, deprime, convulsiona. A mesmice é um troféu repelente a todas as forças do que acredito, a hipocrisia e ausência de valores travestido de liberalismo falseia desavergonhadamente as idéias de uma realidade provida de caráter, de uma justiça independente, nunca refém da libertinagem ideológica, do elitismo ou do individualismo manipulador que estraçalha os seres de menor força e destrói amizades, realidades, sociedades.

Ler e estar ciente das desgraças do mundo é algo que vem de encontro a um sonho, que se tornou apático, abatido, que me tira a vontade de lutar, desde que o mal do ter sempre venceu a dignidade do ser e, à medida que o homem evolui em ciências exatas, ou avança no universo das humanas, mais carrasco ele se torna, porque, paradoxalmente, a sabedoria o torna mais senhor de si, prevalecendo mais e mais a falta de escrúpulos, de sentimentos de justiça e de “vergonha na cara”.

Passei alguns anos da minha vida sonhando que um dia eu não veria mais falsos ao meu lado, nem seres como eu vivendo no ostracismo social, ledo engano.

As classes, ou pessoas mais abastadas de hipocrisia e providas do dom da manipulação, dão as costas a esses humanos que povoam o mundo em condições piores do que vermes, pois vermes estão sempre em seus devidos lugares. Não lhes interessa, ou por imbecilidade ou por medo de que desiguais se tornem mais iguais, repartir conhecimentos, bens morais e materiais. Então se arvoram de donos do mundo e, embora vão servir de comida para os mesmos vermes que devorarão os miseráveis, ou virarem cinzas num forno crematório, sempre julgam que isso é algo que o dinheiro pode até minorar, que o dinheiro pode comprar, pode manter e subjulgar.
Tudo isto (poderia escrever mil páginas) embalado e, caprichosamente instalado em minha mente, me assusta e me dá sinais inequívocos de que não posso mais pensar.

Minha impotência e minha insignificância ante a isso tudo, sempre deu em nada, e agora, embora ainda precocemente, sinto que posso caminhar para uma demência incurável e ficar louco de vez.

Não posso mais tolerar o que vejo nem assimilar o que leio e ouço, sem que estremecimentos me abalem de maneira assustadora. Tenho medo de perder de vez a razão e sucumbir definitivamente.

Assim, é uma questão de lucidez para a sobrevivência o meu afastamento total e irrestrito dos problemas que minha incompetência não me permitem nem permitirão jamais resolver. As forças do mal já contaminaram, combaliram e aparvalharam os cérebros formados sob a tutela da vida moderna, sobre a barbárie moral travestida de juventude e puberdade ininterrupta.

Está aqui decretado o fim de um contestador, Nada impedindo que novos fatos positivos venham alterar esta minha decisão, afinal, minha personalidade é demente e no final das contas, o que não te dá opção, não deve ser tido como sua escolha.

Meus SONHOS são muitos, Minhas ATITUDES são varias, mas minha personalidade, embora demente, é só UMA!